Para entender o assunto que vamos abordar agora, façamos um exercício: se imagine no Japão, tendo que aprender o japonês, mas sem poder ouvi-lo. Seria fácil? Claro que não! Mas, ainda assim seria possível pensar sobre as palavras e nos comunicar de alguma forma, já que dominamos pelo menos uma língua, a portuguesa. Já para uma criança surda, que nunca aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras), nem isso seria possível, pois ela ainda não teve acesso a nenhuma língua. E é exatamente essa a situação vivida pelas pessoas surdas que convivem entre ouvintes e, muitas vezes, são obrigadas a aprender a língua deles como primeira opção.
Quando o assunto é educação e socialização das pessoas surdas ou dos deficientes auditivos*, fala-se muito sobre aparelhos auditivos e reabilitação – que também são importantes –, mas minimiza-se a importância da Libras, ferramenta responsável por desenvolver a sua área cognitiva, permitir que ela expresse seus sentimentos e entenda o mundo a sua volta.
Portanto, é fundamental o papel dos pais ao ensinarem ou permitirem que seus filhos tenham acesso à Libras. A aprendizagem deve começar antes mesmo que eles iniciem a vida escolar. Quanto mais rápido, melhor! Além disso, como estão em fase de desenvolvimento, adquirir a linguagem por meio de movimentos corporais e expressões faciais é a forma mais simples para os bebês se comunicarem. Por isso eles conseguem aprender a língua de sinais de forma natural e espontânea. A Libras contribui, ainda, para que pais surdos sejam tão capazes de cuidar de uma criança – seja ela ouvinte ou surda – quanto qualquer outra pessoa!
São chamadas de surdas as pessoas que utilizam a Libras como sua língua principal, inclusive durante as vivências sociais. Já os deficientes auditivos são aqueles que, apesar de limitações auditivas, não utilizam a Libras para se comunicarem.
Pais surdos de filhos ouvintes
É comum as pessoas se questionarem se pais surdos são capazes de cuidar de uma criança, por não poder ouvi-la chorar, por exemplo. Entretanto, a maternidade e paternidade é tão possível para eles como para qualquer um. A visão aguçada, a sensibilidade tátil e, claro, a Libras permitem que eles se comuniquem e identifiquem qualquer desconforto ou necessidade dos filhos.
São chamadas de CODA (Children of Deaf Adults) as Crianças Ouvintes com Pais Surdos. Essas crianças são consideradas “bilíngues biculturais”, pois, além de terem o potencial para compartilhar a cultura e a língua de sinais de seus pais surdos, por serem ouvintes, tornam-se inevitavelmente membros desta comunidade. O papel da CODA também vem com responsabilidades importantes, já que muitos deles atuam como intérprete para seus pais desde cedo, o que pode significar assumir tarefas geralmente reservadas para adultos.
Entretanto, quando os seus pais utilizam apenas a Libra e não são capazes de oralizar, é importante que as CODA façam acompanhamentos com profissionais como Fonoaudiólogos para que também aprendam a Língua Portuguesa, no caso do Brasil. Do contrário, mesmo sendo ouvintes, elas terão dificuldades para se comunicar com outras pessoas e durante a vida escolar.
A importância da Língua Brasileira de Sinais
O ensino da Libras nas escolas públicas e regulares do Brasil ainda é uma barreira para a educação e socialização das pessoas surdas e dos deficientes auditivos. Isso porque algumas escolas até disponibilizam um professor bilíngues para atender às demandas dessas crianças, mas essa costuma ser a exceção e não a regra. São muitas as reclamações de pais dizendo que seus filhos são excluídos por não conseguirem ouvir e se interagir com ninguém. Em alguns casos eles são até impedidos de assistir aula por falta de intérprete. Desta forma, alguns optam por procurar uma instituição especializada nesse tipo de ensino.
No país, a proposta da Educação Especial do MEC (da década de 1990) estabelece que as pessoas com deficiência (inclusive deficientes auditivos e surdos) estejam em escolas regulares, com o apoio de tradutores-intérpretes e do atendimento educacional especializado. O objetivo é garantir não só a aprendizagem, como a socialização dessas crianças. Atualmente, discute-se também a necessidade da Educação Bilíngue – Libras e Português – para os surdos, nas escolas regulares, em salas específicas.
Benefícios da comunicação bilíngue