A deficiência auditiva ainda é alvo de preconceitos e tabus em todas as camadas sociais. Embora já existam políticas de inclusão em escolas, empresas e universidades, não é incomum que o cidadão surdo encontre dificuldades para se estabelecer no mercado de trabalho e realizar seus sonhos individuais.
Mas além de enfrentar o preconceito do mundo externo, muitas pessoas com perda auditiva têm de lidar com pré-julgamentos dentro de sua própria família. Essa é uma triste realidade que precisa ser mudada através da sensibilidade e conscientização. Acompanhe estes relatos:
Quem assiste a novela “A Dona do Pedaço” sabe que a personagem Josiane morre de vergonha de sua própria mãe Maria da Paz – interpretada por Juliane Paes. Na trama, ela já declarou que a mãe se veste mal e que não se sente filha dela.
E como a arte imita a vida, esse tipo de preconceito acontece também no mundo real, inclusive na comunidade não ouvinte. A esteticista Ana da Cruz que ficou surda aos 34 anos e usa implante coclear relata um distanciamento dos filhos “Foi muito estressante perder a audição. Antes de usar o implante, eu não sabia o tom da minha voz. Quando estava empolgada, era natural falar mais alto, mas não era minha culpa. Quando isso acontecia, era cortada com um sinal pelos meus filhos. Eles pediam para eu falar baixo, porque ficavam com vergonha. Quando ia a algum lugar, um empurrava para o outro me acompanhar”.
Para contornar a situação, Ana da Cruz aprendeu a se posicionar diante dos seus filhos, dizendo abertamente que precisa de colaboração e bom senso.
No blog “Crônicas de Surdez” — da autora Paula Pfeifer Moreira — há diversos depoimentos de pessoas não ouvintes que passaram por experiências difíceis em seu círculo familiar. Um deles é da leitora Elisabeth, que narrou o seguinte:
“Sofri muito preconceito com minha própria família e amigos quando descobri que tinha deficiência auditiva, mas ainda não me aceitava. Também já senti a falta de confiança em alguns momentos do trabalho, por conta da deficiência. Só venci o meu autopreconceito quando perdi um emprego por preconceito de outra pessoa!
Aquilo me marcou de tal forma, que cheguei a entrar em depressão, e quando saí do fundo do poço, prometi a mim mesma que nunca mais ninguém iria me tratar daquela forma, e fui aprendendo a me aceitar e me defender da maldade alheia. Hoje em dia sou muito bem respeitada por toda a família, porque já sabem que não admito brincadeiras infames como antes, e quando vem de alguém que não tenho muita intimidade de explicar que não gosto, eu fecho a cara e ignoro, o que também é uma resposta, porque a pessoa se toca que não é legal”.
Por fim, esperamos que esses relatos tenham contribuído para a conscientização de nossos leitores. Se você tem algum deficiente auditivo na família, compreenda que ele é um ser humano íntegro e multipotencial. Livre-se dos preconceitos, tenha empatia e seja colaborativo.