Não foi só o sinal de TV que migrou da era analógica para a digital, a terceira idade também. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, é cada vez maior o número de pessoas acima de 50 anos envolvidas com as novas tecnologias. Em 2016, 14,9% da população idosa brasileira utilizava a internet — dez anos atrás, os usuários eram apenas 7,3%. O número de idosos dessa faixa etária que utiliza o celular também aumentou bastante: pulou de 16,8% em 2005 para 55,6% nos dias de hoje.
A tecnologia está contribuindo para a execução de atividades no cotidiano e tornando a vida muito mais fácil. Ela dá autonomia, independência e segurança em poder pagar as próprias contas sem sair de casa, por exemplo. Mais do que necessária, a inclusão digital da terceira idade é positiva para a saúde, desde que usada com moderação.
Pesquisas afirmam que a interação com os dispositivos digitais estimula o cérebro, trazendo vários benefícios relacionados à coordenação motora, percepção visual, memória, atenção e ao processamento de informações. As novas possibilidades de interação com amigos e familiares, aliás, representam um dos grandes impactos positivos que o contato com tablets, smartphones e computadores podem trazer para os idosos. Dados do IBGE apontam que 11,1% da população brasileira com mais 60 anos se declara depressiva. E, por meio da internet, elas cultivam o contato com outras pessoas, o que é fundamental para evitar ou tratar essa doença. Mas é importante lembrar que isso não substitui o contato presencial, os momentos de lazer fora de casa e a atividade física, por exemplo. Caso contrário, a tecnologia pode levar a outro tipo de isolamento, igualmente preocupante.
Sem idade para se superar
A japonesa Masako Wakamiya foi a convidada especial do diretor-executivo da Apple e a participante veterana na Conferência Mundial de Desenvolvedores, realizada na Califórnia, em junho do ano passado. Aos 82 anos, ela foi a criadora do programa lúdico para iPhone “Hinadan”, inspirado no tradicional Festival de Bonecas Hina Matsuri.
Todo ano, os japoneses expõem, em uma plataforma de vários níveis, bonecas que representam os membros da corte imperial do período Heian (séculos 9 a 12) em suas casas, escolas e qualquer outro lugar onde haja meninas. O palco em forma de escada se instala dias antes e deve ser desmontado na noite do dia 3 de março, para que as meninas do lugar não fiquem solteiras quando crescerem, segundo a tradição. Em “Hinadan”, o jogador tem que colocar as bonecas no lugar correto.
Durante a conferência da Apple, Masako explicou que não há limite de tempo, porque isso seria muito estressante para os idosos. Além disso, as respostas geram sons muito diferentes e acompanhados na tela pelas palavras “erro” ou “certo”, e não é necessário arrastar a boneca com o dedo, mas clicar no lugar escolhido. Tudo isso pensando na melhor interação da terceira idade com o jogo.
Masako também contou que começou a tocar piano aos 75 anos e é membro de várias associações para promover a informática entre os idosos. “Estou tão ocupada todos os dias que não tenho tempo para descobrir se tenho alguma doença”, disse em entrevista divulgada pelo portal Exame, que pode ser conferida na integra neste link